sexta-feira, 17 de julho de 2009

UNE, com verba oficial, festeja Lula

Lisandra Paraguassú e Tânia Monteiro, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Evento anual da entidade recebeu apoio de sete ministérios, da Caixa, dos Correios e da Petrobrás

Aos gritos de "Dilma presidente" e "Lula, guerreiro do povo brasileiro", os cerca de 3 mil estudantes que se reuniram ontem na abertura do 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) mostraram uma adesão inquestionável ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com algumas poucas reivindicações e vários elogios, deixaram claro de que lado estão. Algum desavisado poderia pensar tratar-se de uma convenção petista.

Ovacionado ao se levantar para fazer seu discurso, o presidente chegou a pedir que parassem. "Vocês vieram aqui para trabalhar ou para gritar?", brincou o presidente.

As vozes dissonantes foram poucas. De um lado, um grupo minoritário contrapunha ao nome da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para a presidência em 2010 o do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) - que integra a base aliada do governo. Mas mesmo esse grupo de estudantes se entusiasmou e começou a tirar fotos de Lula assim que o presidente entrou no auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, ontem, em Brasília.

"O presidente Lula é o primeiro a participar de um congresso da UNE em 71 anos de história", destacou a presidente da entidade, Lucia Stumpf, ligada ao PC do B. Não há registros, no entanto, de outro presidente que tenha sido convidado para a cerimônia. Lula e o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, foram convidados a pôr a mão no gesso em um molde que ficará exposto na nova sede da UNE, no Rio. Como Lula e Dulci demoraram muito, o gesso endureceu e os dois tiveram dificuldades para tirar a mão da massa.

APOIO

Dominada há décadas pelo PC do B, que elegeu a maioria dos presidentes desde a reconstrução da entidade, em 1979, e pelo PT, que tem o segundo maior grupo, a UNE virou base do governo desde a primeira eleição de Lula, em 2002. Nunca antes a entidade teve uma relação tão próxima com o governo federal.

Essa proximidade se traduz em recursos. Desde 2004, a UNE já recebeu R$ 10 milhões da União. Desses recursos, R$ 7 milhões foram repassados somente nos últimos 14 meses. O 51º Congresso da entidade, que começou ontem em Brasília, foi organizado com o apoio de sete ministérios, além de instituições como a Caixa Econômica Federal, Correios, o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci) e a Petrobrás. Um projeto de lei que tramita no Congresso ainda vai liberar recursos federais para financiar a reconstrução da sede da entidade no Rio de Janeiro.

Em seu discurso, que durou pouco mais de meia hora, o presidente Lula elogiou a independência da UNE. "A Lucia (Stumpf) fez seu discurso como se eu não estivesse aqui. E fez mais forte porque eu estava aqui. Numa relação democrática,civilizada, ninguém pode ser dependente de ninguém", afirmou o presidente.

"Eu sou amigo de vocês e vocês meus amigos. Vocês são uma entidade com autonomia e no momento em que vocês não concordarem comigo é para dizer na minha cara ?não concordo, sou contra? e vão para rua fazer passeata. Não tem nenhum problema", completou.

Com os estudantes concentrados em pedir mais investimentos na área da educação, defender o petróleo encontrado na camada pré-sal e exigir a abertura de um número maior de vagas no programa Universidade para Todos (ProUni), não se ouviu durante as cerca de duas horas em que Lula e seus 11 ministros estiveram no centro de convenções gritos de "Fora Sarney". A manifestação contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que tem contado com o apoio do presidente para se manter no cargo, só ocorreu mais tarde, em frente ao Congresso.

A presidente da UNE aproveitou para dizer que a entidade não compartilha alguns pontos de vista do presidente Lula, que além de liderar a movimentação em defesa de Sarney até abraçou no início desta semana o hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), removido da Presidência da República com a ajuda de estudantes que ficaram conhecidos como os "caras-pintadas".

"Nós não nos somamos a ele (Lula) na defesa de Fernando Collor nem de Sarney. Nós repudiamos o que Collor representa na história do Brasil", afirmou Lucia. "Por isso vamos convocar um grande debate para exigir uma reforma política que dê acesso ao jovem ao Congresso Nacional. Os jovens que estão lá hoje são os filhos, os netos, os juniores (das oligarquias políticas)", completou.

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