sexta-feira, 24 de julho de 2009

SITUAÇÃO PRECÁRIA

EDITORIAL
DEU EM O GLOBO

O recesso parlamentar tem sido ingrato com o presidente do Senado, José Sarney, recolhido à Ilha de Curupu, no Maranhão.

Quando ele, a tropa de choque do PMDB e o Planalto esperavam por pelo menos um arrefecimento na sucessão de denúncias sobre as mazelas administrativas da Casa, a publicação pelo jornal “O Estado de S. Paulo” de trechos de gravações de conversas telefônicas mantidas entre o senador, o filho Fernando Sarney e a neta Maria Beatriz, filha de Fernando, produziu um curtocircuito na estratégia de defesa do presidente do Senado.

Diálogos normais entre um pai extremoso, um avô compreensivo e uma neta necessitada de emprego para o namorado fizeram, no caso do clã Sarney, juntar fios desencapados que relacionam o presidente do Senado ao nepotismo exercitado por atos secretos. Os telefonemas estabelecem ligações entre Fernando Sarney, o pai e Agaciel Maia, o poderoso diretor-geral da Casa, nomeado pelo senador em 1995, e sobre quem vinha desabando até agora quase todo o peso da responsabilidade pelas malfeitorias descobertas. Maia já havia alertado que não poderia ter rasgado os códigos comezinhos de ética se não recebesse ordens de cima, da Mesa do Senado.
As gravações lhe dão razão. Agaciel disse a Fernando que não poderia guardar a tal vaga — sintomaticamente deixada por um irmão de Bia — para o namorado da filha, a não ser que recebesse uma determinação do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), então presidente da Casa.
O sinal verde foi conseguido, e Henrique Dias Bernardes, o namorado, ganhou o emprego — secretamente. A tropa de choque reunida pelo Planalto e comandada por Renan Calheiros (PMDB-AL) para defender José Sarney terá trabalho redobrado. Fica mais difícil encenar a farsa do Conselho de Ética presidido pelo senador sem votos Paulo Duque (PMDBRJ), uma marionete controlada por Renan e grupo. Afinal, as gravações publicadas quarta-feira apontam para a falta de decoro de Sarney, que dissera desconhecer práticas das quais ele se utilizou a fim de nomear o namorado da neta. O próprio Duque já era passível de pedido de afastamento da presidência do Conselho por ter antecipado a inocência de Sarney, sem avaliar qualquer prova.

A situação de Sarney ficou precária, mesmo que o presidente Lula tenha aproveitado a posse do novo procurador-geral da República para defender a tese antirrepublicana, elitista, aristocrática de que uma pessoa, a depender da biografia, pode passar a ser alguém acima de qualquer suspeita. Até quando Lula sustentará a crise no Senado, em nome da “governabilidade” do seu plano eleitoral de 2010?

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