sábado, 18 de julho de 2009

Sarney se diz injustiçado e culpa a imprensa

Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO

O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS: Senador evita responder a apartes dos colegas e pede que respeitem seu silêncio

BRASÍLIA. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), aproveitou o último dia antes do recesso parlamentar para, em discurso diante de um plenário vazio, com apenas cinco senadores, reafirmar que ficará no cargo para enfrentar a crise. Evitando usar as palavras renúncia e afastamento, Sarney disse que é a terceira vez que assume o comando do Senado e que sempre o encontrou em meio a crises. O senador acusou a imprensa de fazer uma campanha pessoal contra ele.

- Os desafios, a carga de trabalho, os insultos, as ameaças não me amedrontaram e não me amedrontam.

Para os poucos senadores presentes, ele leu o discurso "Uma prestação de contas" da cadeira de presidente, sem esconder o abatimento. Concluiu citando Sêneca, filósofo e escritor do Império Romano: "As grandes injustiças só podem ser combatidas com o silêncio, a paciência e o tempo".

Agradeceu aos partidos que sustentam sua gestão, inclusive o PT. E lamentou ter perdido o apoio do DEM. Disse que só disputou a eleição porque foi convocado pelo seu partido e admitiu, pela primeira, vez que avaliou mal os desafios da missão:

- Esqueceram o Senado para invadir minha vida privada e a de minha família.

Sarney tentou demonstrar que as turbulências não paralisaram a Casa, e enumerou 40 medidas tomadas por ele neste primeiro semestre para corrigir irregularidades e distorções administrativas. Ao ser questionado por jornalistas, ao deixar o plenário, Sarney pediu para que respeitassem o seu silêncio.

Ao discursar, enfrentou constrangimentos, em apartes de Cristovam Buarque (PDT-DF) e Álvaro Dias (PSDB-PR). O pedetista pediu que Sarney entregasse ao presidente Lula o balanço das atividades do Senado para que ele entenda que "não pode humilhar" a Casa, chamando senadores de pizzaiolos.

Evitando polemizar, Sarney respondeu que mandaria cópia do relatório a Lula e que transmitiria as observações do pedetista. Já Álvaro Dias demonstrou incômodo com as declarações do presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), que disse não se preocupar com a opinião pública.

- Atue junto ao Conselho de Ética para que ele possa julgá-lo de forma transparente, imparcial e responsável que exige a sociedade brasileira, especialmente junto ao presidente do Conselho de Ética - pediu.

Sarney evitou responder. Mas lembrou de um episódio entre os dois, quando Dias o procurou no Maranhão, para convidá-lo a ingressar num partido que iria fundar. Diante desse relato, o presidente do Senado acrescentou que, se tivesse que procurar alguém para testemunhar sobre sua vida pública, escolheria o colega do Paraná.

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