segunda-feira, 27 de julho de 2009

Raúl Castro convoca os cubanos a voltarem ao campo

DEU EM O GLOBO

Metade das terras cultiváveis está ociosa, e a retomada da produção seria forma de combater crise mundial


HAVANA. O presidente cubano, Raúl Castro, disse ontem que seu governo se prepara para o segundo ajuste nos gastos de 2009 devido ao impacto da crise econômica mundial e pediu aos cubanos que impulsionem a produção agrícola como meta de "prioridade estratégica".

O crescimento previsto para este ano é de 2,5%

Durante um discurso para comemorar o 56º aniversário da tomada do Quartel de Moncada - a ação militar que marcou o início da revolução de 1959 - Raúl, de 78 anos, reiterou a seus compatriotas a necessidade de retomada da produção agrícola em terras ociosas com o objetivo de diminuir a importação de alimentos porque a crise financeira mundial está reduzindo a entrada de dinheiro na ilha e dificulta os créditos. Segundo o presidente, mais da metade das terras cultiváveis de Cuba estaria ociosa.

Segundo Raúl, desde o fim de 2008, foram entregues, em usufruto, cerca de 690 mil hectares de terras a camponeses e organizações. A metade dessas áreas já estaria pronta para o plantio e um terço delas, semeado.

- Trata-se de uma questão de segurança nacional produzir no país - afirmou Raúl, lembrando que Cuba importa 80% dos víveres que consomem seus 11,2 milhões de habitantes.

Cuba havia anunciado recentemente um corte em sua meta de crescimento econômico para este ano dos 6% previstos para 2,5%. Já tinha lançado também um forte plano de austeridade para diminuir o consumo energético em 12%. Nos próximos dias, Raúl realizará três reuniões em seu gabinete para analisar o impacto da crise na ilha.

- A terra está aí, aqui estão os cubanos, vamos ver se trabalharemos ou não, se produziremos ou não, se cumpriremos nossa palavra ou não - disse Raúl, em um discurso enérgico.

O presidente cubano não mencionou o governo dos EUA, tema frequente em seus discursos políticos sobretudo em razão do embargo comercial que o país impõe à ilha há 47 anos e ao qual Cuba atribui parte de seus problemas econômicos.

- Não é uma questão de gritar "pátria ou morte" ou "abaixo o imperialismo", o bloqueio nos atinge e a terra está aí, esperando por nosso suor - disse Castro.

A data, também conhecida como o Dia da Rebeldia, coincide com o terceiro aniversário da última aparição pública de Fidel Castro, pouco antes de ficar doente, em 2006.

O governo cubano aposta em tornar a economia estatal mais produtiva em vez de empreender grandes reformas. Na próxima quarta-feira, o Conselho de Ministros analisará o segundo ajuste de gastos previsto no plano deste ano por causa dos efeitos da crise econômica mundial.

O mandatário disse também que sua equipe vai avaliar "a redução significativa dos ingressos provenientes das exportações e das restrições adicionais para acessar fontes de financiamento externo".

Raul lidera uma profunda reforma na agricultura que inclui a distribuição de terras e a descentralização da tomada de decisões para tornar o setor mais produtivo.

Governo anunciou ainda cortes nos gastos sociais

De um total de 110 mil pedidos, foram aprovados 82 mil, o que equivale a 40% da área não cultivada do país.

Desde 1º de junho, o governo já implementou algumas outras medidas de redução de gastos no setor estatal e começou ainda a sancionar com cortes de serviço diversas empresas e entidades que não estejam cumprindo seus planos energéticos.

Também já anunciou cortes em gastos sociais e tomou outras medidas de restrição para enfrentar a crise mundial.

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