sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mediador propõe governo de reconciliação em Honduras

Gustavo Chacra, Nova York
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Sugestão de Arias para resolver crise será levada amanhã à mesa de diálogo; Micheletti diz que rejeitará proposta

Enquanto simpatizantes do presidente deposto Manuel Zelaya intensificaram as ações contra o governo de facto em Honduras - ao bloquear estradas de acesso a Tegucigalpa e outras cidades importantes do país -, em San José, na Costa Rica, o presidente costa-riquenho e mediador do conflito, Oscar Arias, declarou ontem que a saída para o impasse deve incluir necessariamente a volta de Zelaya à presidência e propôs a criação de um governo de reconciliação.

A proposta foi feita após o presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, dizer que estava disposto a deixar o cargo que assumiu após o golpe do dia 28, desde que o governante deposto não reassuma a presidência.

No entanto, Micheletti rejeitou estabelecer um governo de "reconciliação nacional" para resolver a crise política. "Não aceitamos que nenhum país nos faça imposições. Nós temos uma posição firme e não mudaremos de modo algum", disse o presidente de facto.

Segundo declarações feitas por telefone ao Estado desde Tegucigalpa, não há clima internamente para que Zelaya retorne. As Forças Armadas, a Suprema Corte e o Congresso ainda estão unidos na oposição ao presidente deposto, apesar de estarem abertos a concessões para aliviar o isolamento de Honduras, um dos países mais pobres da América Latina.

"Micheletti está disposto a renunciar ao cargo para dar o poder a outra pessoa (que não seja Zelaya). Mas essa não é uma solução, pois o restabelecimento constitucional passa pela volta de Manuel Zelaya ao poder", afirmou Arias a um programa de rádio.

Para ele, Zelaya deve também abandonar sua pretensão de levar adiante o projeto de uma consulta sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte. Amanhã, comissões representando os dois lados devem ser reunir para prosseguir com as negociações, iniciadas uma semana atrás, quando Micheletti e Zelaya se reuniram separadamente com Arias.

Em Tegucigalpa, a tensão continua a se acentuar. Após Zelaya ter conclamado seus partidários à insurreição contra o governo de facto, manifestantes bloquearam as estradas e sindicatos ameaçaram iniciar uma greve geral se não houver acordo até domingo. O governo restabeleceu o toque de recolher. Cresce o temor de que se iniciem conflitos armados caso Zelaya tente entrar por terra em Honduras.

"O que se fala é que Zelaya poderia voltar com a ajuda (do presidente nicaraguense, Daniel) Ortega", disse o professor da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, Benjamin Santos.

Segundo o analista, tudo dependerá de quem o presidente deposto está disposto a ouvir. Se seguir aliados como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pode tentar voltar. Já o governo de Barack Obama e Arias aconselham Zelaya a esperar por uma solução. O jornal El Heraldo, mais importante de Honduras e contrário a Zelaya, informou ontem ter tido acesso a planos para "desestabilizar o país mediante ações armadas de grupos irregulares, ligados ao narcotráfico e provenientes da Venezuela".

O analista hondurenho Graco Pérez afirma que provavelmente "Zelaya não retornará". O consenso, acrescenta Peter DeShazo, diretor de América Latina do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, "é que qualquer solução passa pelas eleições". A votação está prevista para novembro.

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