quarta-feira, 1 de julho de 2009

DEM, PSDB e PDT pedem saída e só PT salva Sarney

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti, Brasília
DEU EM O GLOBO
Em meio a uma crise que ameaça o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), DEM, PSDB e PDT pediram formalmente sua licença do cargo. O PSOL levou à Mesa Diretora representação pela abertura de processo contra Sarney, por quebra de decoro, por causa de seu envolvimento com os escândalos recentes. Depois do apelo do presidente Lula por empenho na defesa do aliado no Senado, o PT virou o maior fiador de Sarney. A líder do governo, Ideli Salvatti, disse que é um erro personalizar a crise. Pela primeira vez, a possibilidade de afastamento foi cogitada pela família Sarney. A ministra Dilma Rousseff visitou o senador para dar um recado de Lula, que está na Líbia: o presidente pede que Sarney nada decida até que ele volte ao Brasil.


Sarney perde apoio do DEM e fica só com PT

PSDB, PDT e PSOL também pedem afastamento do presidente do Senado, que recebe visita de Dilma com apelo de Lula por calma

Depois de o PSOL protocolar representação na Secretaria Geral da Mesa propondo a abertura de processo por quebra de decoro contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), mais três partidos, DEM, PSDB e PDT, defenderam formalmente sua licença do cargo. Para se contrapor à pressão pelo afastamento de Sarney, a bancada do PMDB divulgou uma nota — assinada por 17 de seus 19 representantes — reiterando apoio ao presidente do Senado e aos demais integrantes da Mesa Diretora. Mas, acuado, Sarney preferiu não aparecer em plenário, o que reforçou entre seus aliados dúvidas sobre sua capacidade de enfrentar os constrangimentos a que está sendo submetido e continuar no comando da Casa.

A pedido do presidente Lula, que está na Líbia, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) foi ontem à noite à casa de Sarney. Transmitiu a preocupação de Lula com a situação no Senado e também o apelo do presidente para que não tome qualquer decisão antes de seu retorno ao Brasil, previsto para a noite à hoje.

Lula quer conversar pessoalmente com Sarney, o que deve ocorrer amanhã.

Mesmo contando com o apoio de uma maioria, ainda que frágil, Sarney demonstrou abatimento.

Pela primeira vez nos últimos dias, a possibilidade de se afastar do cargo foi cogitada no seu grupo mais restrito, inclusive na família. O que mais abalou Sarney foi a decisão do DEM de pedir sua licença da presidência, pelo menos até a conclusão das investigações sobre a participação da empresa de seu neto José Adriano Cordeiro Sarney em contratos de empréstimos consignados oferecidos a servidores da Casa.

A decisão da bancada não foi unânime, mas Sarney sentiu o golpe, já que o DEM apoiara sua candidatura. Além de Heráclito Fortes (DEMPI), foram contra a proposta Antonio Carlos Magalhães Júnior (BA) e Eliseu Rezende (MG).

— Tenho muito apreço pelo presidente Sarney, mas tenho mais apreço pelo Senado. Nosso compromisso é com a legalidade e com a isenção nas investigações. Portanto, enquanto há investigação, que ele se afaste para que haja isenção.

Foi uma decisão de consenso — justificou o líder do DEM, José Agripino (RN).

Na mesma linha, o líder do PDT, Osmar Dias (PR), anunciou em plenário a decisão de sua bancada, de cinco parlamentares.

— Todos que consultei foram a favor da licença — afirmou.

Sarney foi ao Senado à tarde, mas ignorou apelos do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que solicitou sua presença em plenário para anunciar a decisão da bancada tucana de pedir sua licença da presidência. Virgílio esperou até as 17h30m e, então, revelou que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), sugerira antes que Sarney se afastasse e nomeasse uma comissão de alto nível, com senadores de sua escolha, para conduzir as investigações e tomar providências.

Sarney não aceitou.

— Se ele (Sarney) entende que não cabe uma comissão de alto nível, que se afaste.

Não lhe peço a renúncia, porque foi eleito legitimamente, mas que se licencie — defendeu Virgílio.

Marconi Perillo (PSDBGO), que presidia a sessão, reagiu irritado à proposta, já que a comissão, na prática, assumiria atribuições da Mesa, à qual integra como 1ovicepresidente: — Não posso concordar com a criação de uma comissão que desconsidera a minha pessoa. Tenho, como vice-presidente, condições e disposição para ajudar o Senado.

Marconi recebeu a solidariedade do 1osecretário, Heráclito Fortes: — Intervenção, não. Grupo para controlar a Mesa, não. Bedel de secretário, não. Com todo o respeito, essa não é uma solução para resolver a crise, mas para criar mais crise.

Guerra voltou à tribuna. Disse que a comissão não pretendia se contrapor à Mesa, mas ajudá-la a fazer uma reforma administrativa.

— A grande tragédia é que não temos mais presidência do Senado. Precisamos de um banho de sensatez — argumentou Guerra.

A nota do PMDB em apoio a Sarney foi articulada pelo líder do partido, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas quem a leu em plenário foi Valdir Raupp (PMDB-RO).

— O presidente não pode ser responsabilizado por erros cometidos por servidores — disse Raupp.

Na representação contra Sarney, o PSOL incluiu denúncia contra Renan, ex-presidente do Senado. O partido pede que o Conselho de Ética investigue a responsabilidade de ambos nos atos secretos. Garibaldi Alves (PMDB-RN), que presidiu a Casa em 2008, ficou de fora.

— Os atos secretos assinados por Garibaldi são inócuos. Já os editados nas gestões de Sarney e Renan são relevantes e suspeitos — disse a presidente do PSOL, a vereadora Heloisa Helena.

Por enquanto, as representações deverão ficar paradas: o Conselho não foi sequer instalado.

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