sexta-feira, 31 de julho de 2009

Brasil e Espanha pedirão explicação aos EUA

Denise Chrispim Marin, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Embaixada brasileira em Washington transmitirá ?preocupação e surpresa? à Casa Branca

Brasil e Espanha deverão manifestar de forma conjunta à Casa Branca sua "preocupação e surpresa" com o acordo que prevê o uso de bases colombianas pelos EUA. Em linguagem diplomática, trata-se de um rechaço ao acordo. A decisão, que poderá agregar outros países da região, foi tomada durante o encontro de ontem entre o chanceler brasileiro, Celso Amorim, e o espanhol Miguel Ángel Moratinos, no Itamaraty.

O governo brasileiro também pedirá a convocação de uma reunião extraordinária do Conselho de Defesa da América do Sul para avaliar os possíveis desdobramentos do acordo EUA-Colômbia no processo de militarização da região.

Amorim informou que, nesta semana, instruiu a embaixada brasileira em Washington a pedir informações e a reclamar transparência do governo americano sobre a ampliação de sua presença militar na Colômbia. Há cerca de 10 dias, a mesma instrução fora passada à embaixada brasileira em Bogotá.

Para Brasil e Espanha, o novo acordo EUA-Colômbia pode estar relacionado às denúncias feitas por Bogotá de que a Venezuela teria fornecido armamento para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Na segunda-feira, Bogotá pediu explicações a Caracas sobre armas encontradas com guerrilheiros, que pertenceriam a um lote importado pela Venezuela da Suécia. No dia seguinte, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, congelou as relações bilaterais.

Preocupado com a evolução dessa nova crise, o Palácio do Planalto enviará hoje a Caracas o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com Chávez, por telefone.

Ontem, enquanto Lula rechaçava a instalação das bases americanas na Colômbia, em São Paulo, desembarcou em Brasília a principal autoridade militar dos EUA para essa questão, o chefe do Comando Sul das Forças Armadas, general Douglas Fraser.

Para uma autoridade da chancelaria espanhola, a justificativa da Colômbia para o novo acordo - a necessidade de intensificar o combate às Farc e às drogas - é incoerente e débil. Tampouco há plena confiança, no Itamaraty, sobre as informações recebidas de Bogotá de que as bases serão geridas por oficiais colombianos e o número de soldados americanos não superará o do Plano Colômbia.

As chancelarias de Brasília e de Madri concordam que se trata de uma iniciativa contraditória do governo Barack Obama. Para o Itamaraty, o acordo cria uma ameaça à consolidação da América do Sul como zona de paz, estimula os países vizinhos a promoverem uma corrida armamentista, traz para a região a influência direta de terceiros países e tende a legitimar discursos antiamericanos.

A iniciativa, para diplomatas brasileiros, se soma à decisão dos EUA de reativar a 4ª Frota Naval, em 2008, para aumentar a sua presença militar nas Américas Central e do Sul.

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