sexta-feira, 3 de julho de 2009

15 anos do Plano Real

Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A maior vitória do Plano Real e do presidente Fernando Henrique Cardoso veio com a eleição de Lula em 2002

A REAÇÃO do brasileiro comum aos 15 anos do chamado Plano Real seguiu o padrão das sociedades modernas de massa. Apesar da importância da estabilidade de preços em seu dia a dia, essa data passou despercebida para a grande maioria. Afinal, há muitos anos a inflação elevada, que marcou várias décadas de nossa história recente, desapareceu da vida do cidadão comum. As filas nos postos de gasolina às vésperas de aumentos dos combustíveis, a corrida ao supermercado em dias de pagamento de salários e o intenso movimento nas agências bancárias para aplicação de dinheiro nas contas indexadas ao chamado "overnight" fazem parte de um passado distante. Além disso, milhões de brasileiros chegaram à vida adulta sem passar por experiências semelhantes.

Mas é importante lembrar ao leitor da Folha o que representou a vitória contra a inflação e relembrar os atores principais por trás dessa conquista. Durante certo tempo, vivemos no Brasil a ilusão de que uma inflação elevada poderia coexistir com o crescimento sustentado da economia. Essa atitude levou à institucionalização de mecanismos de indexação que reduziram, durante certo tempo, os efeitos nocivos da inflação. Mas o custo de tal política foi o de anestesiar a sociedade diante de um problema que afetava seu bem-estar e postergar um enfrentamento definitivo dessa questão.

Quando o Brasil acordou dessa dormência, a inflação já havia atingido um nível destrutivo sobre o tecido econômico e avançava sobre a paz social. As primeiras tentativas de enfrentar essa questão fracassaram principalmente porque as lideranças políticas não estavam dispostas a abrir mão de mecanismos de ação política como os gastos do governo. E postergavam seu enfrentamento com medidas paliativas.

Fernando Henrique Cardoso, como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, foi o primeiro político a perceber que a sociedade havia chegado ao limite na sua tolerância à inflação. Mais ainda, entendeu que somente com um programa que atacasse o descontrole fiscal então existente e com uma política de juros que evitasse uma euforia do consumo com a queda da inflação haveria chance de êxito.

Foi o que aconteceu entre 1994 e 1996. Apoiado pela sociedade, que viu na criação do real uma chance de abortar um passado do qual a grande maioria dos brasileiros queria fugir, FHC conseguiu um êxito extraordinário. Mas o então presidente não se deitou sobre os louros de seu sucesso e seguiu adiante em seu programa de reformas. Abertura da economia, estabelecimento de regras fiscais mais claras, retirada do Estado de áreas importantes da economia -e sua substituição pelas chamadas agências reguladoras-, sistema de metas de inflação e independência operacional do Banco Central são algumas de suas marcas que prevalecem até hoje na economia.

Mas certamente a maior vitória do Plano Real e do presidente Fernando Henrique Cardoso veio com a eleição de Lula em 2002. Crítico ferrenho do plano de estabilização de FHC, o novo presidente reconheceu a força positiva da obra de seu antecessor e manteve o mesmo rumo.

Vivendo hoje em um período de grande dinamismo da economia mundial, o Brasil pôde finalmente, nos últimos anos, colher os benefícios de ter uma moeda estável e confiável.

Crescimento sustentado e respeito dos principais atores internacionais. Parabéns, Real, por seus 15 anos de sucesso.

Luiz Carlos Mendonça de Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

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