terça-feira, 2 de junho de 2009

A popularidade do presidente

Cláudio Gonçalves Couto
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A pesquisa nacional do Datafolha publicada neste domingo pela Folha de S. Paulo (e cujos resultados continuam a ser publicados nesta semana) reitera o que há meses vem sendo a tônica das pesquisas de opinião produzidas pelos mais diversos institutos: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo seguem bastante populares. Mais importante do que simplesmente repetir uma informação já conhecida é o fato de que a última enquete demonstra que o governo Lula recuperou neste final de maio o prestígio de que gozava em novembro do ano passado, indicando que já há - ao menos nos ânimos populares - uma superação percepção dos efeitos negativos da crise financeira internacional sobre nós. Parafraseando o próprio presidente, o vagalhão de março já vai sendo percebido (não necessariamente de forma correta) como uma marolinha.

Os dados do Datafolha são confirmados pela pesquisa que o Instituto Sensus realiza periodicamente por encomenda da Confederação Nacional do Transporte (CNT). O primeiro levantamento aponta que o governo, após ter caído dos 70% de bom e ótimo em novembro de 2008, para 65% em março deste ano, alcançou agora o patamar de 69%. Já o segundo, indica que a avaliação da administração de Lula oscilou dos 72,5% em janeiro para 62,4% em março, atingindo 69,8% no final de maio. Como se pode notar, apesar de discrepâncias pouco significativas, o movimento geral é exatamente o mesmo, sugerindo se tratar de uma tendência de recuperação, e não apenas de oscilações estatísticas.

Outra informação que reforça essa percepção da tendência é a variação nas intenções de voto hoje verificadas entre os principais pré-candidatos à presidência da República. Apesar de não ser automática a transferência de prestígio entre um governo popular e seu possível candidato, é fato que o sucesso de uma administração junto ao eleitorado ajuda bastante a impulsionar uma postulação presidencial. E nisto, novamente, as duas pesquisas apontam uma tendência favorável ao governo Lula, com um consistente crescimento da pré-candidata Dilma Roussef.

Para o Datafolha, Dilma subiu de 11% para 16%, empatando tecnicamente com Ciro Gomes (15%) e reduzindo a diferença que lhe separa de José Serra (que caiu de 41% para 38%). A pesquisa CNT/Sensus, por sua vez, mostra que Dilma já teria superado os vinte pontos, atingindo 22,3%, contra quase idênticos 38,8% para Serra, mas apenas 9% para Ciro.

Curiosamente, são justamente as intenções de voto nos dois candidatos que apoiam o governo Lula que mais discrepam nos dois levantamentos. Enquanto para o Datafolha a ministra da Casa Civil teria crescido 8% e o deputado cearense permanecido estável desde novembro de 2008, para o Sensus Dilma teria crescido nada menos que 14%, diante de uma queda de 8,4% de Ciro Gomes desde setembro do ano passado. O que faz a diferença na pesquisa deste último instituto é o sensível declínio tanto dos que não tinham candidato (não escolhendo nenhum, anulando ou votando em branco), cuja diminuição foi de quase 2%, quanto dos indecisos (não sabem ou não responderam), cuja redução foi de 4,6%. Para o Datafolha estes números permaneceram estáveis desde novembro.

Como estamos ainda a mais de um ano do início das campanhas eleitorais, estes números deverão mudar muito, sobretudo após o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Contudo, indicam que, como tem sido perene o apoio a Lula, a candidatura governista tem bastante fôlego e capacidade de crescimento - em particular se Dilma for mantida no páreo. Isto é motivo de preocupação para a oposição, que para se viabilizar eleitoralmente precisa sair da agenda meramente negativa, de crítica e denúncia, que lhe tem marcado, para uma posição mais propositiva, demonstrando ao eleitor que os partidos hoje fora do governo podem fazer mais do que Lula e seus aliados, caso conquistem o Planalto.

Curiosamente, foi em certa medida "negativo" o melhor momento da oposição neste aspecto.

Refiro-me aqui à derrubada da renovação da CPMF no Senado. Essa vitória parlamentar dos opositores a Lula permitiu-lhes demonstrar ao eleitorado, em termos práticos, que poderiam vir a fazer coisas diferentes caso estivessem no governo. Só que tal iniciativa - reativa a uma proposta do governo e, por isto, "negativa", não teve continuidade, apesar do tema da redução da carga tributária ser com certa frequência aventado pelos líderes dos partidos de oposição.

É claro que, quando se olha a gestão anterior da coalizão PSDB-DEM/PFL, o que se teve não foi a redução de tributos, mas sua expansão. Contudo, como o governo Lula nada fez para alterar esse estado de coisas, a bandeira da redução da carga tributária ficou disponível para os opositores. O caso é saber se dariam outros passos nessa mesma direção caso ganhassem a Presidência. Parece pouco provável, tendo em vista as restrições fiscais, de modo que será necessário buscar outras bandeiras, que lhes diferenciem positivamente, pois o mero udenismo retórico não tem se mostrado eficiente para causar o desgaste nem de Lula, nem de seu governo e nem (para a preocupação de Serra e Aécio) da candidata situacionista.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da PUC-SP e da FGV-SP.

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