sexta-feira, 19 de junho de 2009

Menos, Lula, menos

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vez em quando ironiza os que ironizavam seus tropeços com o português.

Lembra que, antes de ser presidente, dizia "menas"; agora, vez por outra, tasca um "sine qua non". Parabéns, presidente, pela evolução.

Mas agora é hora de reaprender a falar "menas". A ser menos boquirroto, quero dizer. Presidente não é comentarista de política interna ou externa para ficar dando palpite em tudo, inclusive sobre o que não tem informações.

Refiro-me ao caso das eleições no Irã. Lula não tem elementos para avalizar ou condenar os resultados.

Não houve observadores internacionais que pudessem referendar a vitória do presidente Ahmadinejad ou gritar "fraude".

Ao falar sobre o que não sabe, o presidente está sendo leviano e dando demonstrações seguidas de desinformação.

Primeiro, disse que só os perdedores protestaram. Falso. Os governos da França e da Alemanha chamaram os embaixadores do Irã em suas respectivas capitais para pedir explicações.

Depois, disse que a percentagem de votos atribuída a Ahmadinejad (cerca de 60%) é muita para que tenha havido fraude. Bobagem. Ditaduras não tem escrúpulos. Só um exemplo: o paraguaio Alfredo Stroessner elegia-se sucessivamente com percentagens próximas de 90% -e os hoje petistas e seus amigos paraguaios gritavam fraude sucessivamente.

Até o Conselho dos Guardiães, a linha dura da linha dura, viu-se obrigado a convocar uma reunião com os candidatos destinada a discutir as acusações de fraude. Quando o coração do regime hesita, Lula revela-se mais aiatolá do que os aiatolás. Sem necessidade, porque, como ninguém sabe se houve ou não irregularidades, o mais elementar bom senso sugeriria silêncio a qualquer chefe de governo até desfazer as brumas.

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