quinta-feira, 11 de junho de 2009

Juro cai para menor taxa em 13 anos

Ney Hayashi da Cruz
Da sucursal de Brasília
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BC surpreende e reduz Selic de 10,25% para 9,25% ao ano; valor real, porém, ainda está entre os maiores do mundo

Em uma decisão surpreendente, o Banco Central reduziu os juros básicos em um ponto percentual: a taxa Selic passou de 10,25% para 9,25% ao ano. A maioria dos analistas do mercado financeiro apostava em um corte de 0,75 ponto. Os juros reais (descontada a inflação) no país, porém, ainda estão entre os maiores do mundo.

É a primeira vez desde a criação do Comitê de Política Monetária, em 1996, que a taxa fica abaixo de 10%.

O BC, porém, indicou que o corte pode ter sido o último do processo iniciado em janeiro dizendo, em nota, que "qualquer flexibilização monetária adicional deverá ser implementada de maneira mais parcimoniosa".

A redução, aprovada por 6 votos a 2, foi motivada pela expectativa de que a inflação fique abaixo do centro da meta em 2009 e 2010. O corte de 4,5 pontos feito na Selic neste ano deve levar alguns meses para fazer efeito.

A taxa serve só como referência para o mercado. Na prática, os juros da economia são bem maiores.

BC surpreende e corta juros em 1 ponto
Segundo banco, corte para 9,25% é justificado por projeções de inflação abaixo do centro da meta neste ano e em 2010

Decisão por 6 votos a 2 leva juro nominal ao menor patamar desde 1996; mercado esperava uma queda de 0,75 ponto

Numa decisão surpreendente, o Banco Central reduziu os juros em um ponto percentual, com a taxa Selic passando de 10,25% ao ano para 9,25%, mas indicou que a queda de ontem pode ter sido a última do processo de alívio monetário iniciado em janeiro.

No mercado financeiro, a maioria dos analistas apostava num corte de 0,75 ponto ontem e outro de 0,5 ponto na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), marcada para o mês que vem.

Segundo o BC, o corte foi motivado pela expectativa de inflação menor do que o centro da meta para este ano e 2010.

"Tendo em vista as perspectivas para a inflação em relação à trajetória de metas, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 9,25%, sem viés", disse nota do BC no início da noite, após a decisão por 6 votos a 2 (os dissidentes votaram por corte de 0,75 ponto).

O mercado espera inflação (medida pelo IPCA) de 4,33% neste ano e de 4,30% em 2010, abaixo, portanto, do centro da meta, de 4,5%. Juros menores tendem a elevar a inflação.

O BC ressaltou ainda que "mudanças na taxa básica de juros têm efeitos sobre a atividade econômica e sobre a dinâmica inflacionária que se acumulam ao longo do tempo", uma maneira de lembrar que a queda na Selic neste ano -de 4,5 pontos percentuais- ainda vai levar alguns meses para fazer efeito sobre a economia.

Por esse raciocínio, pode ser recomendável aguardar mais um tempo até ficar mais claro qual será o efeito dos recentes cortes nos juros sobre a inflação e o nível de atividade. O argumento é reforçado por outro trecho do comunicado do BC, que afirma que "qualquer flexibilização monetária adicional deverá ser implementada de maneira mais parcimoniosa".

Ou seja, mesmo se promover nova diminuição nos juros, será menor que a de ontem.Foi o quarto corte neste ano, e desta vez a redução foi suficiente para deixar a taxa abaixo de 10% pela primeira vez desde a criação do Copom, em 1996.

Antes da existência do Copom, o juro básico variava diariamente, dependendo da atuação do BC no mercado de títulos públicos. Entre o final dos anos 80 e o início dos 90, essa flexibilidade era especialmente útil para conter a hiperinflação: em dezembro de 1989, por exemplo, a inflação medida pelo IPCA ficou em 51,5%, o que equivalia a uma alta anual de 14.500%. No mesmo mês, a taxa Selic foi de 51.600% ao ano.

Com a estabilização dos preços trazida pelo Plano Real (1994), esse sistema começou a ser aperfeiçoado. Em 1996, com a criação do Copom, o juro básico passou a seguir parâmetros fixados mensalmente. De lá para cá, a taxa bateu recorde de alta em dois momentos: em setembro de 1997 -no auge da crise asiática- e em janeiro de 1999 -após a maxidesvalorização do real-, com taxa de 45%.

Agora, vários fatores explicam o juro de um dígito. Por um lado, famílias, investidores, empresas e governo já estão mais habituados com a estabilidade de preços, o que facilita o controle da inflação. Já o maior equilíbrio das contas externas faz com que o país não precise de juros tão altos para atrair capital externo, embora isso ainda aconteça em escala menor.

A estabilidade da política fiscal também faz com que o governo não precise pagar taxas tão elevadas para convencer o mercado a financiar sua dívida.

O último empurrão veio com a crise global, que obrigou países do mundo inteiro a reduzir juros para tentar normalizar a oferta de crédito e estimular a economia. Embora não tenha seguido casos extremos como o dos EUA, com taxa próxima de zero, o BC também cortou juros de forma mais agressiva.

Mesmo assim, o Brasil ainda tem um dos maiores juros reais (descontada a inflação) do planeta. Segundo a consultoria UpTrend, o país tem juros reais de 4,9%, atrás apenas de China (6,9%) e Hungria (5,9%).

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