domingo, 3 de maio de 2009

Oposição centra fogo em Lula

Da Redação
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Tucano diz que presidente se esforça em banalizar a ética. Já Agripino Maia, líder do Democratas, estranha declarações vindas do Planalto somente agora. Berzoini não vê problema em dar passagens a sindicalistas

O deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) considerou absurdas as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o uso indiscriminado da cota de passagens aéreas recebidas pelos deputados federais. Para Lula, essa discussão é uma “hipocrisia”. O presidente da República admitiu ainda que, quando era deputado (entre 1987 e 1991), usou a cota de passagens da Câmara para trazer sindicalistas a Brasília. Ele não acha correto, no entanto, o uso dos bilhetes para turismo na Europa. As declarações foram feitas após encontro de Lula com os presidentes da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que se queixaram do noticiário da imprensa sobre a farra das passagens.

“A prática do presidente Lula é de banalizar a ética. Com essas declarações, ele está dizendo que ética é hipocrisia e todo mundo deve se locupletar”, atacou Madeira. Na avaliação do tucano, o presidente não sabe “separar o público do privado” e não teria noção de defender a correção no uso de recursos públicos. “Ele é um mau exemplo de prática republicana”, disse Madeira. O parlamentar tucano condenou o fato de o presidente ter usado sua cota para trazer sindicalistas a Brasília: “Parlamentares darem passagens para sindicatos é errado, é uma transgressão”, disse Madeira. “Os sindicatos devem ter renda para pagar passagens para seus dirigentes”, observou.

A maioria dos deputados, no entanto, usou sua cota passagens com terceiros. São deputados de todos os partidos, incluindo o PSDB de Madeira. Segundo levantamento do site Congresso em Foco, 261 deputados usaram a cota de passagens aéreas em viagens ao exterior, entre janeiro de 2007 e outubro de 2008. Foram 1.885 voos internacionais. As viagens ao exterior pagas pela Câmara custaram R$ 4,765 milhões: R$ 3,021 milhões referentes aos bilhetes emitidos e R$ 1,744 milhão de taxas de embarque.

Defesa

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), apoiou as declarações de Lula, que estaria “coberto de razão” ao dizer que vê muita hipocrisia na crítica ao uso das passagens aéreas por parte de parlamentares. “Não vejo problema nenhum quando um deputado traz para Brasília, com passagens pagas pela Câmara, sindicalistas ou pessoas relacionadas ao exercício de seu mandato”, comentou Berzoini. “Também não vejo problema no fato de ele trazer a esposa para acompanhá-lo. O que não pode é usar as passagens para fazer lazer e turismo.”

Berzoini disse que a falta de regras deu margem a essa situação porque havia na Câmara uma “cultura” de que os deputados tinham direito ao crédito. Apesar de afirmar que algo precisava ser feito para coibir os abusos, o presidente do PT avaliou que as novas normas contêm restrições exageradas. “Não acho esse assunto importante o suficiente para rediscutirmos a decisão da Mesa Diretora, mas o fato é que, agora, as regras prejudicam o nosso trabalho com ativistas sindicais e militantes de movimentos de moradias”, argumentou Berzoini. “Não posso mais convidar um professor da Unicamp, por exemplo, para fazer uma palestra na Câmara, a não ser que pague a passagem do próprio bolso.”

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), condenou as declarações de Lula. Em sua avaliação, o presidente deveria ter se pronunciado logo no início da crise, há cerca de um mês. “É muito estranho o presidente fazer essa manifestação somente agora”, observou. “Agora o Congresso já cuidou de se autopurgar e adotou providências moralizadoras”, disse Maia.

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