quinta-feira, 7 de maio de 2009

O retorno do fantasma

Daniel Pereira e Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Tratamento de doença de Dilma e dificuldade de aliança com o PMDB trazem à tona a discussão sobre a possibilidade de Lula concorrer novamente

O fantasma do terceiro mandato está de volta a Brasília. Depois de exorcizado em público pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a ser defendido por líderes de partidos governistas tanto da Câmara como do Senado. Em conversas reservadas, eles citam pelo menos três motivos para justificar a possibilidade de garantir a Lula o direito de disputar, em 2010, um novo mandato. O primeiro deles é o tratamento de câncer a que se submete a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Segundo líderes, a doença teria tornado ainda mais incerta a candidatura de Dilma.

“A candidatura da ministra é uma incógnita. Não podemos ficar sem uma alternativa forte”, diz um deputado habitué das reuniões com o presidente da República. A avaliação de alguns caciques governistas é de que não há alternativa forte além de Lula. Maior partido do país, o PMDB não tem um concorrente natural ao Planalto. No PT, antigos pré-candidatos, como o ministro Tarso Genro (Justiça) e o governador Jaques Wagner (Bahia), não contam com o apoio das demais legendas. Já o deputado Ciro Gomes é visto com desdém. “O Ciro não tem chance nem de ser vice da Dilma”, afirma um ministro com gabinete no Planalto, citando o temperamento explosivo do socialista.

“O cara”

O segundo motivo a dar força à retomada das discussões sobre um terceiro mandato é a dificuldade de PT e PMDB fecharem uma aliança formal para apoiar um nome que não seja o próprio presidente. Os dois partidos estão em pé de guerra nos estados. Podem caminhar juntos, no entanto, se forem guiados por Lula, “o único com capacidade para liderar esse processo”, conforme um parlamentar influente. O terceiro fator é o alto nível de aprovação popular do governo, além da imagem positiva do presidente no cenário internacional.

“O cara” — conforme expressão cunhada pelo presidente dos EUA, Barack Obama — venceria, segundo seus soldados, qualquer concorrente do PSDB. Líderes peemedebistas, por exemplo, flertam com os tucanos, mas admitem que nunca foram tão bem tratados por um presidente da República. Tratamento de primeira retratado em cargos. Lula é contra o terceiro mandato.

Congressistas afirmam que as conversas em curso servem como uma provocação a ele. Sinalizam que haverá generais dispostos a defender uma mudança na Constituição se o presidente quiser.

Com a experiência de quem foi apeado do Planalto depois de um processo de impeachment capitaneado por petistas, o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) apostou, em entrevista ao Valor Econômico, que uma proposta destinada a permitir uma nova reeleição passará no Congresso. “Não tenho a menor dúvida. Aprova e aprova de uma forma entusiástica.” A reforma política que os líderes governistas na Câmara querem aprovar a toque de caixa está sendo comemorada como uma grande oportunidade para convocar um plebiscito sobre a proposta do terceiro mandato, tese acalentada pelo deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), que sempre defendeu o direito a mais uma reeleição para o presidente Lula.

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