sábado, 30 de maio de 2009

Metas para 2020

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

A crise entre o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, os produtores rurais, a quem chamou de “vigaristas”, e os ministros “desenvolvimentistas” chega em um momento delicado, em que o Brasil é chamado a ter um papel relevante na política internacional de preservação do meio ambiente. O governo do presidente Lula parece preso a um paradoxo: gosta da parte ambiental que favorece o Brasil, como os combustíveis alternativos. Mas não se conforma com as normas ambientais que atrasam as obras do PAC.

O filósofo e historiador americano Jim Garrison, presidente do State of the World, uma ONG criada por Mikhail Gorbachev dedicada à preservação do meio ambiente, está no Brasil desde o início do ano tentando obter o apoio do governo brasileiro para um plano ambicioso de antecipar de 2050 para 2020 as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa que devem ser definidas em uma reunião da ONU em Copenhagen no final do ano, em substituição ao Protocolo de Kyoto.

A ideia de Garrison é fazer uma conferência em uma cidade diferente nos próximos dez anos, “para chamar a atenção para esse enorme desafio”, e o Brasil seria a sede de 2010.

Para ele, o Brasil deve ser um dos líderes desse movimento, levando em conta justamente a política de combustíveis alternativos como o biodiesel e as condições climáticas favoráveis também à energia solar e de ventos.

Jim Garrison acha que o Brasil, por ser um dos maiores países do mundo, ter recursos naturais, viver em paz com os vizinhos e ser grande produtor de energia de fonte limpa (hidrelétricas), pode assumir a liderança desse movimento.

Garrison cita como bom exemplo a Cemig, companhia de energia de Minas, que tem 82% de sua geração de fonte limpa. Segundo ele, a Cemig, cujas ações são cotadas em Nova York, é considerada pela Dow Jones um destaque entre empresas do mundo que atuam na economia sustentável.

Diz Garrison que, segundo estudo do MIT (Massachusetts Institute of Tecnology), mesmo que fosse alcançada uma redução de 80% nas emissões até 2050, a temperatura subiria 4 graus. Por isso a necessidade de antecipar a meta para 2020.

Outra consequência preocupante do aquecimento global seria a subida do nível dos oceanos. Com o derretimento do Ártico e Groenlândia, o nível dos oceanos subirá, no mínimo, 25 metros, adverte Garrison, o que atingiria todos os países que têm grandes costas marítimas, como o Brasil.

A elevação do nível dos oceanos forçará a migração das populações litorâneas para o interior, em meio à falta de alimentos.

O derretimento de geleiras afetará cerca de 2,5 bilhões de pessoas, especialmente na China e na Índia.

A ocorrência de secas também na América Central levará a que haja migrações para os Estados Unidos, e destes para o Canadá.

Será um “cataclismo”, segundo Garrison, que não acredita que os Estados Unidos possam liderar uma mudança nos hábitos da humanidade por estarem envolvidos com uma crise econômica de graves proporções, embora acredite que o governo de Barack Obama estará comprometido, na reunião do fim do ano, com um programa de redução do efeito estufa.

Garrison levará o resultado das discussões no Brasil para uma reunião em Washington, em novembro, quando será debatido o que levar para Copenhagen onde, defende, deve-se lutar para fixar para 2020 a meta de corte de 80% das emissões.

Jim Garrison volta a alertar: “Se as emissões parassem amanhã, seriam necessários milhares de anos para o ambiente se recuperar”.

Segundo ele, “o momentum (das emissões) é tão forte que já não se pode mais evitar que a temperatura suba de 4 a 5 graus até 2050”.

Garrison alerta sobre as emissões naturais do metano para a atmosfera, causadas pelo degelo, segundo ele, em quantidade seis vezes maior que tudo que a Humanidade produziu desse gás até hoje.

Ele conta que um comandante russo de navio, ao navegar pelo Ártico, testemunhou que a água borbulhava. Era o escapamento de metano. Sobre o que fazer, ele afirma que não podemos mais evitar o aquecimento, mas podemos evitar “o pior”.

“Se temos dez anos para nos preparar, temos que fazêlo decididamente”.

Há dias, encerrou-se em Copenhagen um encontro empresarial internacional de preparação à reunião do fim do ano, e seis medidas foram decididas, algumas delas já para 2020.

O pressuposto de Jim Garrison de que é inevitável o aquecimento de 4 a 5 graus até 2050 não é aceito pelo fórum, que está propondo medidas para limitar esse aquecimento a 2 graus. São as seguintes as medidas: — Acordo para o estabelecimento de metas de redução do efeito estufa que sejam atingidas em 2020 e 2050, de forma a limitar a média do crescimento da temperatura a 2 graus. Medidas de curto prazo devem ser tomadas, e as de longo prazo devem focar o objetivo de fazer com que as emissões globais caiam pelo menos à metade dos níveis de 1990.

— Medição das emissões por atividade de negócios para que as metas possam ser verificadas.

— Incentivos para um aumento dramático nos financiamentos de tecnologia de baixas emissões.

— Desenvolvimento de novas tecnologias de baixas emissões.

— Fundos para tornar as comunidades mais capazes de se adaptar aos efeitos da mudança climática.

— Meios para financiamento da proteção das florestas.

A grande surpresa do encontro empresarial em Copenhagen foi a posição dos empresários chineses , comprometidos com metas de redução dos gases de efeito estufa e com energias alternativas. (Continua amanhã)

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