segunda-feira, 25 de maio de 2009

Charlotte: coragem e masoquismo são sua matéria-prima

Luiz Carlos Merten, Cannes
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO /Caderno 2

Filha de artistas transgressores, ela pediu o apoio da mãe nos momentos difíceis da filmagem de Anti-Cristo de Lars von Trier

Numa entrevista realizada no Hotel du Cap, em Cap d''Antibes, Charlotte Gainsbourg contara ao repórter do Estado que foi muito importante o apoio de seu marido, o ator e realizador Yves Attal, durante o processo que resultou no novo filme de Lars Von Trier. Anti-Christ provocou escândalo na 62º edição do festival. O filme sobre um casal que se dilacera após a morte do filho foi anunciado como de horror.

Ele trata do horror das relações, mais do que explora códigos de fantasia de terror, mas tem sexo explícito, bichos falantes, muita violência física. Charlotte confessou que temia a reação do marido à sua exposição, mas Attal gostou do filme. Ontem, ele estava visivelmente emocionado, na plateia, enquanto ela subia ao palco para receber seu prêmio de melhor atriz.

Foi preciso muita coragem para aceitar o papel?

Não sei se coragem é a palavra certa. É sempre preciso certa coragem para se colocar na pele dos outros, expor suas emoções. Queria trabalhar com Lars (Von Trier), mas quando li o roteiro percebi que era um projeto muito complexo, com cenas difíceis, inclusive fisicamente. Sempre tive complexo de minha magreza, de minha ausência de seios. Durante boa parte do filme eu tenho de representar nua. Disse-lhe que temia me sentir desconfortável ou intimidada e Lars me pediu que tivesse confiança nele. Por exemplo, era importante que eu estivesse nua, mas ele me colocou uma camisa em algumas cenas, o que deixa meu corpo à mostra sem realmente expô-lo. Acho, de qualquer maneira, que foi necessário certo masoquismo de minha parte para embarcar nessa viagem. Mas nunca me senti humilhada nem usada.

O que Von Trier lhe dizia sobre as motivações desses personagens?

Lars disse na coletiva que não ia explicar o filme para a imprensa. Com os atores foi a mesma coisa. Até agora não sei porque o filme se chama Anti-Cristo, embora deduza que seja alguma coisa ligada a Nietzsche. Lars nunca me explicou o por quê da violência. Ela não tem um nome. É ''ela''. O marido é ''ele''. Muitas vezes eu tinha de inventar uma motivação para cenas fortes. Lars me apoiava ou não. Ele sabia o filme que queria fazer, mas queria que nós
contribuíssemos com nossa parte.

Você é filha de Serge Gainsbourg e Jane Birkin, um casal de artistas que se pautou pela transgressão. Isso ajuda na hora de fazer um filme desses?

Tenho o maior orgulho e respeito por meus pais e minha mãe me apoiou muito durante a filmagem. Quando sentia que o chão desaparecia sob meus pés, eu lhe telefonava e ela sempre tinha uma palavra para me estimular, um caminho para apontar.

Je t''Aime Moi non Plus, dirigido por Serge e interpretado por Jane, reestreou em São Paulo e sua mãe fez shows muito belos no Brasil.

Não sabia da reestreia, mas sim, ela me falou com entusiasmo dos shows. O Brasil sempre foi uma referência para mim. Que bom! Super! Agora vamos ver como será a reação a Anti-Cristo.

Os vencedores

PALMA DE OURO - Das Weisse Band (Le Ruban Blanc), de Michael Haneke

MELHOR DIRETOR - Brillante Mendoza, por Kinatay

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI - Jacques Audiard, por Un Prophète

MELHOR ATOR - Christoph Waltz, por Inglorious Basterds, de Quentin Tarantino

MELHOR ATRIZ - Charlotte Gainsbourg, por Anti-Christ, de Lars Von Trier

PRÊMIO EXCEPCIONAL - Alain Resnais (conjunto da obra)

PRÊMIO DE ROTEIRO - Mei Feng, por Nuits d''Ivresse Printanière, de Lou Ye

PRÊMIO DO JÚRI - Fish Tank, de Andrea Arnold, e Thirst, de Park Chan-wook

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