domingo, 12 de abril de 2009

Transferências

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Por que Dilma está, no máximo, com 18% de intenções de voto (no cenário que lhe é mais favorável) e com apenas 14% (no menos), se 49% dos entrevistados sabem que ela é a candidata de Lula?

Na mais recente pesquisa nacional da Vox Populi, realizada nos primeiros dias de abril, há vários resultados interessantes. Mas há um que chama especialmente a atenção.

Em pesquisas de domínio público, foi a primeira vez que se avaliou a proporção de pessoas que já é capaz de identificar quem o presidente Lula apoia na eleição do ano que vem. Com tantos levantamentos sendo divulgados, é até surpreendente que uma dimensão tão relevante como essa ainda fosse desconhecida.

Na pesquisa, foi feita uma pergunta direta aos entrevistados, se conseguiam apontar “o candidato ou a candidata de Lula” dentre os que constavam em uma lista com os nomes de Dilma, Serra, Aécio, Ciro e Heloísa Helena.

Quase a metade dos entrevistados (49%) fez a identificação correta de Dilma. Os outros quatro candidatos, somados, alcançaram 9%, sendo 2% os que afirmaram que Lula “apoiava todos” ou que “não apoiava nenhum”. Faltam 40%, os que não souberam responder.

A primeira coisa relevante nessas respostas é a quantidade de pessoas que acertam, mostrando que estamos indo, de fato, para uma eleição bem diferente das outras que fizemos. De um lado, temos uma grande fatia do eleitorado que, no mínimo, dá notícia do que se passa no sistema político. É fato que continua a ser expressiva a proporção dos desinformados, mas ela já é minoritária, contrariando os estereótipos que veem nossa população como sendo predominantemente formada por pessoas sem nenhum interesse e nenhuma informação sobre assuntos políticos.

De outro lado, os 49% de respostas corretas mostram que o imenso esforço que Lula e o governo fazem para tornar mais conhecida a ministra Dilma está dando resultado. Considerando que seu nome foi sacramentado há pouco tempo, ter já chegado à metade do eleitorado é um desempenho acima das expectativas.

Esses números indicam que temos uma sociedade que dá sinais de crescente politização (em que pesem graves problemas nesse processo) e que está indo para as próximas eleições sob o impacto de uma pré-campanha de intensidade maior que qualquer outra que experimentamos.

Não é exagero dizer que ela sofre uma espécie de aquecimento precoce, para mobilizá-la cedo, a mais de um ano da eleição.

Eles também mostram, contudo, que o caminho da candidatura da ministra pode não ser tão tranquilo como desejariam alguns estrategistas do Planalto. Se a velocidade na difusão do nome pode ser considerada um sucesso (mesmo que esperado, dado o montante de capital político e o volume de comunicação investidos), há um mistério nos números.

Por que Dilma está, no máximo, com 18% de intenções de voto (no cenário que lhe é mais favorável) e com apenas 14% (no menos), se 49% dos entrevistados sabem que ela é a candidata de Lula?

Pelo que se ouve do governo, era de se esperar mais da candidatura da ministra, mesmo agora, tão longe da eleição. Os que imaginam que Lula teria força para eleger qualquer um suporiam, por exemplo, algo mais perto de 30%, pois apostam, até, em vitória no primeiro turno.

Talvez tenhamos que acreditar mais no que as pessoas dizem nas pesquisas. Nessa, 23% afirmaram que votariam “com certeza no candidato indicado por Lula”, mas não mais que esses.

Muitos admitiram votar em quem ele indicasse “dependendo de quem seria”. Mas isso quer dizer que pensam fazer uma comparação com os outros nomes que lhes forem apresentados, para só então escolher.

Dilma tem um largo caminho de crescimento. Afinal, apenas 11% disseram conhecê-la bem, com mais 20% que julgavam ter “alguma informação” sobre ela. Dos 70% restantes, 35% já ouviram falar em seu nome e 34% sequer isso. O relevante é que saber que ela é a candidata de Lula é apenas o começo da conversa para mais de três quartos da população. Se for só isso que sua candidatura tem para dizer, não vai bastar.

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