quinta-feira, 23 de abril de 2009

PIB do Brasil vai cair 1,3%, diz FMI

Rolf Kuntz
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Reativação da economia será lenta e penosa, comércio cairá 11% e o País será afetado, segundo relatório do Fundo

A economia brasileira encolherá 1,3% em 2009, no meio da maior recessão mundial do segundo pós-guerra, e crescerá 2,2% no próximo ano, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Todas as previsões divulgadas ontem são piores que as de janeiro e apontam para uma recuperação muito lenta para as economias avançadas: sua produção diminuirá 3,8% neste ano e ficará estagnada em 2010, quando o desemprego no mundo rico chegará ao ponto mais alto, 9,2%.

As novas estimativas aparecem no Panorama Econômico Mundial, uma publicação distribuída pouco antes da reunião de primavera, em abril, e da assembleia anual do Fundo, realizada habitualmente em setembro ou outubro. Nos intervalos as projeções são atualizadas. A última revisão havia ocorrido no começo do ano.

Os números do Fundo são muito mais baixos que os do governo brasileiro - expansão de 2% em 2009 e de 4,5% no próximo ano - e mais pessimistas que os do mercado financeiro nacional, de contração de 0,49% neste ano e crescimento de 3,5% no próximo. Mas a nova estimativa reflete uma avaliação mais negativa do cenário internacional e não das condições fundamentais da economia brasileira, segundo explicou o diretor adjunto do setor de pesquisa do FMI, o economista Charles Collyns.

O Brasil e outros países da América Latina são afetados, disse Collyns, por uma combinação de choques: o abrupto declínio dos preços dos produtos básicos, o aperto nas condições de financiamento e a desaceleração do comércio global.

Esses fatores, segundo ele, produziram forte impacto na economia brasileira no último trimestre do ano passado, mas já houve sinais de melhora no primeiro trimestre de 2009, graças ao uso de estímulos fiscais e "aos cortes agressivos da taxa de juros".

Foi bom, disse o economista, o País ter conquistado algum espaço de manobra para reagir à crise dessa maneira, e "isso com certeza está amortecendo o impacto de grandes choques globais no Brasil".

A previsão para a economia global aponta a continuação das dificuldades em 2009 e um retorno ao crescimento apenas no próximo ano. "Não achamos o Brasil particularmente fraco: ao contrário, é um membro importante da economia global e as projeções para o Brasil foram reduzidas em linha com as projeções globais", concluiu.

O comércio mundial de bens e serviços diminuirá 11% neste ano e crescerá 0,6% em 2010, segundo o Panorama. Em 2009 os preços do petróleo serão em média 46,4% menores que em 2008. Para as cotações das outras commodities prevê-se a redução de 27,9%. Em 2010 deverá ocorrer uma recuperação parcial, com valorização de 20,2% para o petróleo e de 4,4% para os demais produtos básicos, insuficientes, portanto, para o retorno aos níveis anteriores à queda,

A reativação da economia global será mais lenta e mais penosa do que noutras crises, lembrou o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. Ele se referia a uma das conclusões mais importantes do Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado no dia anterior. Recessões tendem as ser mais longas e profundas quando ocorrem simultaneamente em várias economias grandes e são associadas a crises financeiras. As duas condições ocorrem atualmente. Também o desemprego tende a ser maior do que em recessões de outro tipo.

As economias emergentes e em desenvolvimento também são afetadas pela crise. O crescimento da China, o maior do mundo nas últimas duas décadas, deve passar de 9% em 2008 para 6,5% em 2009 e 7,5% em 2010. Essas economias, com crescimento médio maior que o do mundo rico, devem iniciar mais cedo a recuperação, "mas o retorno ao normal dependerá do que ocorrer nos países avançados", disse Blanchard.

O produto mundial diminuirá 1,3% neste ano e crescerá 1,9% no próximo e esse número, bem abaixo do normal, será sustentado principalmente pelo desempenho das economias emergentes e em desenvolvimento. Os estímulos fiscais para a reativação econômica devem atingir em 2009 cerca de 2% do produto bruto dos países do Grupo dos 20 (G-20), tal como sugeriu o FMI no outono de 2008, lembrou o economista-chefe.

Os estímulos fiscais e a redução de juros já produzem algum efeito, mas as forças contrárias ainda prevalecem, afirmou Blanchard. O equilíbrio entre as duas forças dependerá do sistema financeiro e, portanto, das medidas tomadas para repará-lo. Os bancos ainda estão na defensiva, com critérios de empréstimos mais apertados, e os mercados de títulos funcionam mal. Enquanto isso durar continuará a recessão. Daí a urgência, reiterou o economista, de políticas financeiras firmes para limpeza dos balanços, ainda contaminados por créditos tóxicos, e recapitalização dos bancos viáveis.

Nessa situação, os países emergentes e em desenvolvimento ainda são afetados por uma reverão dos fluxos de financiamento, por causa do aumento da aversão ao risco. Alguns países poderão enfrentar problemas de balanço de pagamentos e o FMI deverá ajudá-los.

A economia da América Latina e do Caribe deve passar de um crescimento de 4,2% em 2008 para uma contração de 1,5% em 2009, podendo crescer 1,6% no próximo ano. O PIB mexicano, muito dependente do comércio com os Estados Unidos, deve diminuir 3,7% em 2009 e crescer 1% em 2009. O México já obteve US$ 47 bilhões da nova linha de crédito flexível do FMI. A Colômbia está na fila.

De modo geral, a inflação permanecerá em níveis muito próximos dos observados nos últimos anos e poderá cair em alguns países, mas os preços ao consumidor na Venezuela deverão subir 36,4% neste ano e 43,5% em 2010. As taxas projetadas para a Argentina são 6,7% e 7,3%.

Mas a tabela divulgada pelo FMI contém uma ressalva: analistas privados estimam uma inflação muito maior. A maior parte dos países com política de metas de inflação entrou na crise com os preços acima dos limites. O Brasil foi a exceção. Se as condições financeiras externas piorarem, ficará mais difícil equilibrar as pressões, mas alguns países, incluídos Brasil, Chile, Colômbia e México, ainda terão espaço para novos cortes de juros, segundo o relatório.

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