domingo, 5 de abril de 2009

Eleições e propostas

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente de Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Nossas lideranças e nossos partidos devem ao país mais que uma discussão para saber se o nome é fulano ou beltrano (ou fulana e beltrana). a questão é que há muito mais a discutir

Depois que começou quase oficialmente a mais peculiar sucessão desde a redemocratização, estamos vendo de tudo, menos o mais importante. Vai a ressalva do &quotquase" por faltar uma definição fundamental, o nome do PSDB que enfrentará a ministra Dilma. Como, no entanto, as escolhas são limitadas, é mesmo quase.

No resto, por obra de nosso presidente, estamos a todo vapor discutindo as eleições de 2010, como se elas fossem amanhã. O cenário está montado, com a candidatura do governo já escalada e intensas movimentações à procura de apoios nos partidos que sabidamente não apresentarão candidatos próprios. Até ingredientes que costumam só surgir no final do processo, como as discussões a respeito de candidaturas &quotsimbólicas", de partidos que sabem não ter chances reais e que as aproveitam para marcar posições ideológicas, estão em pleno andamento.

Para sublinhar que a época é mesmo de eleições, a cada dia saem novas pesquisas. Nelas, quando os entrevistadores pedem às pessoas que respondam em quem votariam &quotse as eleições fossem hoje", uma verdade se expressa, só que restrita. Embora não seja assim que pensam os cidadãos comuns (para quem o tempo anda devagar em questões como essas), para o sistema político é mesmo como se estivéssemos na véspera delas.

Temos, então, aparentemente, tudo de uma eleição, menos o essencial. Nenhuma das forças que se movimentam se preocupou, até agora, em apresentar ao país nem que seja um esboço do que pretende fazer, caso alcance a Presidência da República.

É um lugar comum dizer que as eleições são um momento único na vida de um país, quando ele pode repensar sua trajetória e decidir o que nela deve ser mantido e o que deve ser mudado. São oportunidades preciosas para a sociedade avaliar em direção a qual futuro quer andar.

Isso é verdade sempre e é ainda mais importante em períodos como o que estamos vivendo. É bom que todos tenhamos consciência que a mudança econômica pela qual o mundo está passando nos afeta de maneira intensa e que é um processo que não estará concluído nos próximos meses. Ninguém sabe como serão as coisas daqui para frente, apenas que não serão iguais ao que foram até hoje.

Nossas lideranças e nossos partidos devem ao país mais que uma discussão para saber se o nome é fulano ou beltrano (ou fulana e beltrana). Mantê-la nesses termos equivale a dizer que nada mais precisa ser pensado, que tudo já foi dito, faltando apenas identificar aquele (ou aquela) que vai se sentar na cadeira de Lula. A questão é que há muito mais a discutir.

Do lado do governo, parece que alguns imaginam que não é preciso avançar nessa direção, pois a ideia de continuidade bastaria como proposta. Eleitoralmente, é um equívoco, pois as pessoas esperam sempre mais de uma candidatura, que sim garanta que programas e projetos bem avaliados sejam mantidos, mas que não se restrinja a um compromisso tão óbvio. Esse, todos os candidatos, inclusive os de oposição, vão fazer.

Em uma cultura política tão personalista quanto a nossa, é até natural que o deputado Ciro Gomes discuta se lança seu nome em função de Serra ser ou deixar de ser candidato pelo PSDB. Que o PSol avalie se Heloisa Helena concorrerá ou não, antes de pensar a proposta que tem para mostrar ao país.

Dos candidatos relevantes, Aécio é o único que tem se batido para que seu partido discuta agora o que quer dizer e só depois o nome que o representará. A tese é boa, mas note-se que ela vem como reação à movimentação de muitos segmentos tucanos para sacramentar logo a indicação de José Serra. Ou seja, centrando, de novo, a discussão em quem e não no quê.

As recentes eleições americanas mostram outro caminho. Desde as prévias, os candidatos dos dois partidos percorreram os Estados Unidos se apresentando aos eleitores e discutindo com clareza temas de todo tipo. Quando chegou a hora de decidir, duas visões do presente e do futuro do país podiam ser comparadas. Essa era a escolha.

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